Somos o que lemos, os autores que admiramos, os que nos interpelam ou indignam, entre outras complexidades. Esta crença terá fundamento?
O primeiro livro que me escolheu e fascinou foi a Bíblia, com as suas histórias de amor como a de Sansão e Dalila, ou de dor como a de Job, a quem uma desgraça sucedia a outra e ele a tudo resistia com a sua fé. Mas o que mais me tocou foi Jesus, bebé pobrezinho, que me trazia prendas no Natal. Atualmente é um livro que me continua a desafiar e a oferecer companhia por ampliar a compreensão do Homem.
Na adolescência li várias vezes as obras O Corsário Negro de Emílio Salgari e A Paixão de Jane Eyre de Charlotte Bronte. À boleia do primeiro percorri mares, preguicei na ilha das Tartarugas, entranhei-me na selva, enfrentei tempestades e, muito mais tarde, tornei-me no impossível: turista aventureira! Na segunda obra encontrei, sem disso ter consciência na altura, um modelo de amor e de mulher, digna e corajosa, que se fez na adversidade. Numa época em que as mulheres, em geral, tinham como projeto de vida o casamento, Jane aprendeu o prazer de saber e de ser autónoma.
Posteriormente assolada pela paixão de desvendar crimes e de construir um sentido para a minha existência, devorei o policial Maigret, de George Simenon e a obra O Estrangeiro de Albert Camus, entre outras. Com a leitura do primeiro partilhei, volume a volume, a carreira de Maigret, admirando o seu olhar humano a incluir seres à deriva, bebendo cerveja, deambulando noite fora pela Pigalle, amando o perigo e o interdito. Já com a segunda obra, companhia de verões sucessivos, vagueava na tentativa de compreender o sentido de absurdo da existência…
Nos dias que correm, em busca de “O sol em cada sílaba”, vou de livro em livro…
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