a estante da professora margarida correia




O livro da minha vida é O banho da Balalaica, um pequeno conto das edições Majora sobre uma irrequieta cadelinha que fazia imensas tropelias, para gáudio do seu pequeno dono e da criança que já fui. Tão encantada me deixavam as peripécias à volta da Balalaica que pedia à minha mãe que lesse aquela história outra e outra vez. E, fruto das repetições e da paixão pelas palavras e pelas imagens da caniche branca, comecei a “ler” a história, de fio a pavio, expressivamente, imitando a minha mãe, fazendo as pausas no momento certo, virando as páginas com a voz suspensa na sílaba exata. Aquele prodígio fez a felicidade da minha mãe (foi o momento alto do seu orgulho iniciador!) que passou a exibir a minha pretensa leitura a familiares, amigos e conhecidos que, recordo ainda, acreditavam estar diante de uma sobredotada que aprendera a ler aos quatro anos, até a minha mãe – verdade supra vaidade! - desfazer o equívoco dizendo que era apenas um milagre de uma memória motivada. Tenho para mim que essa vaidade maternal me contaminou com a paixão pelos livros, embora a febre das efabulações me tenha sido pegada pela minha bisavó Fortunata que, sem saber ler nem escrever, era uma coletânea de contos tradicionais, e que, ao meu pedido - «Conta-me uma história» – abria, sem reservas, a porta do maravilhoso mundo da ficção. 

Nenhum comentário: