Ler é cá um vício… e que doce vício…
Sei lá por que o faço… Ainda concebo que possamos
racionalmente explicar por que razão se gosta de algo. Por outro lado, como
sempre acontece com tudo aquilo que se ama, as razões perdem toda a sua razão
de ser, quando procuramos interpretar a conceção do Amor… A verdade é que, quando
se ama, ama-se, porque se ama!...
Quem um dia descobriu o significado do Amor, compreende bem
as minhas palavras… Todos concordaremos que Amor consiste numa simbiótica
relação estabelecida entre dois seres distintos, cuja existência de um alimenta
a felicidade do outro… é a permanente sede, fome, ânsia… é o descontrolado
desejo carnal e metafísico do outro por mais que nele nos saciemos!
E, assim, em singelas e genuínas palavras, está explicitada
e mais do que explicada a minha relação com a leitura! Porque a verdade é que é
disso mesmo que se trata… de necessidade nua e pura de algo… de Amor por algo!...
Leio, porque sinto necessidade de o fazer… leio, porque a
leitura é instrumento de prazer para mim… leio, porque a leitura apura todos os
meus sentidos, fazendo com que eu próprio sinta que existo e que alcanço
sentido! Leio, porque me divirto, aprendo e cresço ao fazê-lo… Leio, para me
descobrir, para me compreender, para me reinventar continuamente… leio para não
ficar obsoleto, movido pelo sonho de absoluto… leio, porque não me conformo com
uma existência moribunda e porque quero ser sempre mais um pouco, se puder ser…
“ou até se não puder…” Leio, porque encontro em cada livro “um novo mar (por
mim) nunca dantes navegado”, “um novo eu” desvendado… Leio, porque ler faz-me
“aparecer” diante de mim da forma mais plena, concretizada e epifânica…
Leio por necessidade suprema, por imperativo irracional, por
vício… chamem-lhe o que quiserem… leio, porque mergulho no marasmo, na
abstinência castradora infeliz, na absência existencial, se o não fizer!...
Leio, enfim, para me sentir… para me descobrir no decurso da
mais aliciante das viagens… uma viagem realizada através do mais íntimo e
ínfimo de mim, que é, tal como o mais íntimo e ínfimo de ti, afinal, o mais
imenso, denso e intenso dos universos… Leio, enfim, para ser… Leio por tudo
isto e por muito mais, estou certo… e, em verdade, “esse muito mais”
inexprimível e inexplicável é o mais cativante dessa deliciosa experiência…
Por que leio? A isso creio eu saber responder… leio, porque
amo fazê-lo! Por que o amo fazer é que já não sei… Sei lá eu definir o Amor…
ninguém sabe, estou certo… assim como certo estou de que toda a gente ama o
sabor a que o Amor sabe!...
Experimenta! Vais ver que gostas… e, quem sabe, não passarás
a amar também… a amar muita coisa, assim espero, e a amar a leitura, em
particular…
Paulo
Barros